26/08/2022
Resiliência e Abuso nas Organizações
Nos últimos anos tem se falado muito sobre a necessidade de sermos resilientes diante dos desafios e mudanças que o mundo nos impoem. Mas me entristece perceber que muitas organizações respaldam uma cultura abusiva ou líderes que passam do limite com seus funcionários e em paralelo dizem que as pessoas precisam ser resilientes. Como identificar quando passou do ponto?
Resiliência
A resiliência é a capacidade do indivíduo lidar com problemas, adaptar-se a mudanças, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas. Sendo assim, uma pessoa resiliente não desmorona diante das circunstâncias. Ela recupera-se após uma situação de estresse e consegue seguir em frente usando as suas forças de caráter para manter otimismo e enxergar além dos problemas. A resiliência é o torque que temos para superar obstáculos!
Entretando uma forma distorcida de olhar a resiliência é gerar a expectativa que o outro deveria dar conta de toda forma de abuso e permanecer em pé “resiliente”. O problema não é o trabalho, as metas e os projetos que precisam dar resultado. O problema muitas vezes é como as coisas são conduzidas e o preço alto que as pessoas pagam quando escolhem permanecer em um ambiente tóxico não respeitando seus limites.
Você já ouviu falar em lesão moral? Ela começou a ser estudada pela primeira vez em veteranos que testemunharam atrocidades da guerra. Recentemente essa pesquisa foi estendida para outras áreas onde a alta pressão e poucos recursos marcam a rotina de trabalho. A lesão moral é uma resposta de trauma quando testemunhamos ou participamos de comportamentos no local de trabalho que ferem profundamente nossas crenças, nosso senso de justiça e nossa dignidade. Será que o movimento chamado de great resignation, quando milhares de trabalhadores pediram desligamento ou desistiram de suas profississões nos últimos 12 meses, não seria explicado por esse esgotamento pós “guerra”? As reações psicológicas da lesão moral incluem sentimentos de tristeza, raiva, ansiedade, culpa, vergonha ou nojo. Alguns indivíduos podem experimentar uma crise existencial ou até ficar fisicamente doentes. Os líderes estão se esforçando para conter a maré de demissões em massa sem precedentes. A tolerância das pessoas ao absurdo organizacional atingiu seus limites, e um desejo mais profundo de significado e pertencimento aumentou.
Gas Lightning
Imagine alguém estar em uma sala fechada e alguém abre o gás. Aos poucos e sem perceber a pessoa vai inalando até começar a se intoxicar. Então pergunta aos colegas, você está sentindo cheiro de gás? Não tem algo errado aqui? O chefe, responsável pelo vazamento de gás lhe diz: “não há nada de errado. Acho que seu olfato está sensível demais” . E a pessoa permanece no local questionando a si própria e desqualificando os seus próprios sentidos.
Infelizmente ouço esse tipo de situação frequentemente em atendimentos de coaching. Às vezes é o próprio gerente ou diretor que está nessa situação de vulnerabilidade sendo manipulado por quem está na presidência ou conselho da empresa. Anos atrás em um atendimento, o diretor de uma empresa me contou na primeira sessão o contexto profissional que estava vivendo. Era um sistema altamente abusivo onde o Presidente acreditava que a melhor forma de fazer as pessoas entregarem o resultado era colocando “o dedo na moleira”.
O termo gas lightning surgiu na década de 80 em uma peça de teatro. O termo ganhou o mundo para explicar a manipulação que pode ocorrer em relacionamentos pessoais ou profissionais onde o senso de identidade e autoestima dos indíviduos são profundamente afetados. As pessoas manipuladoras que se envolvem neste jogo de poder chamado gas lightning o fazem pois desejam controlar emocionalmente, física ou financeiramente sua vítima. Essa manipulação psicológica semeia dúvida e a confusão na mente de sua vítima. Normalmente, os gaslighters distorcem a realidade e forçam os envolvidos a questionar seu próprio julgamento e intuição.
Como começa os gas lightning?
Um relacionamento com um gas lightner pode parecer começar muito bem. Eles podem elogiar a vítima em um primeiro encontro e confiar imediatamente neles. Essa divulgação, antes que qualquer intimidade tenha sido estabelecida, estabelece confiança rapidamente. Assim que a vítima fica encantada a próxima fase de manipulação pode começar.
Viver em um ambiente intoxicado e manipulativo pode ser psicologicamente devastador. Se você percebe que está imerso em um ambiente tóxico peça ajuda! Alguém imparcial pode lhe ajudar a ver com mais clareza a realidade e lhe ajudar a tomar algumas decisões. É fundamental buscar o auto conhecimento, a consciência emocional, aprender a dar limites e comunicar-se de forma assertiva. Quando tomamos consciência podemos fazer escolhas que cuidem melhor das nossas necessidades.
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E se quiser ler mais sobre limites, confere esse artigo no site: https://www.lightupdesenvolvimento.com.br/conteudo/35/limites-e-a-conexao-com-a-saude-integral/