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Vivendo fora do Brasil...dor e delícia

Vivendo fora do Brasil...dor e delícia

21/11/2018

 “Aos 23 anos passei em um programa Trainee nos Estados Unidos e tive minha primeira experiência internacional. Vivi por um ano lá trabalhando com RH. Descobri a dor e a delícia de ser estrangeiro, de precisar fazer uma adaptação cultural.”

Por Luciana Gazzoni, consultora, interculturalista e especialista em gestão de pessoas e liderança

 

Tenho visto muitas pessoas deixando o país, por inúmeras razões. Resolvi compartilhar um pouco da minha experiência como estrangeira, para contribuir com suas reflexões caso pense nesta possibilidade.

Minha trajetória iniciou quando me formei. Queria ter fluência no inglês e sentia que as aulas no Brasil não eram suficientes. Na época, eu trabalhava no Boticário, mas resolvi abrir mão da promissora empresa após passar em um programa trainee para trabalhar com RH nos Estados Unidos. Meu inglês era avançado, eu queria muito essa oportunidade e estava muito feliz em poder realizar meu sonho.

Chegando lá, as primeiras semanas foram de deslumbramento. A segurança foi o que mais me impactou. Poder deixar a porta da casa aberta, a bicicleta em frente, a chave do carro na ignição. Isso não é o céu. É o planeta Terra. A organização daquele país, o orgulho, a gentileza das pessoas. Fui ao banco abrir uma conta e não precisei provar, comprovar, autenticar firma. Uau.

Passadas algumas semanas, as coisas começaram a me incomodar. A comida, as dores de cabeça insuportáveis que eu nunca tinha experimentado. Tudo parecia difícil. Me sentia incompetente: por mais que eu falasse inglês, não tinha a mesma fluência que a língua nativa. Parecia que ninguém me entendia. Uma grande sensação de solidão e isolamento me invadiu.

Tive dificuldades concretas com o local onde morava e com coisas simples como dirigir ou ir ao supermercado sem transporte público (nem todas as cidades possuem!). Nenhum convite para um café ou churrasco. As pessoas eram muito simpáticas, mas de uma forma distante. Uma saudade que não cabia no peito: dos meus pais, da comida da minha mãe, de falar português, de ir e vir com autonomia, de poder me expressar com facilidade. Passei alguns meses contando os dias para voltar. Eu não sabia que estava em choque cultural.

Depois de 5 meses consegui começar um novo processo. Comecei a adquirir a “ginga” do local. Voltei a ver a beleza da cidade e das diferenças de culturas ponderando de forma saudável. Comecei a incorporar alguns hábitos e admirar a forma como os habitantes lidavam com algumas situações. Pensei algumas vezes que desejava incorporar parte daquela cultura. E assim fiz!

 Comecei a amar aquela terra e as pessoas com quem, pouco a pouco, fui fazendo amizade e criando vínculos. E chegou o momento de decidir. A empresa ofereceu me pagar um advogado para conseguir um visto definitivo. Eu ponderei e decidi voltar. Até hoje algumas pessoas me perguntam se eu não tive vontade de ficar por lá. Minha resposta? Sim e não.

 Quando se vive como estrangeiro, estamos eternamente com uma vontade de ficar e uma vontade de ir embora. Fazendo amigos novos, mas sem aqueles que te conhecem desde sempre e que são capazes de saber como você está só de te olhar. Bate a saudade dos pais e o medo que eles partam repentinamente. Tristeza de não vê-los envelhecer e estar ao seu lado.

Por outro lado, sentimos que há tantas possíveis vidas por aí. Que podemos ser felizes em outras partes do mundo. Que podemos conhecer pessoas e lugares incríveis se arriscarmos sair do porto seguro. E que nunca mais seremos os mesmos quando nos dispomos a expandir.

Descobri que tudo isso faz parte de um ciclo previsível quando resolvi estudar academicamente o processo de adaptação cultural. Hoje me dedico a preparar pessoas e times que têm exposição internacional e que sentem o impacto das diferenças culturais. Tenho apoiado clientes que conseguem passar de forma mais suave por esse ciclo e assim se sentirem realizados mais rapidamente. Enxergo essa área como uma missão para mim. Conectar pessoas com suas novas histórias e fazê-las renascer em um novo ambiente.

 

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